sexta-feira, 16 de outubro de 2009


Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou
e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto,
pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei
e não me amaram, pelo que tentei ser correta e não foram comigo.
Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação.
Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso.
A única magia que existe é a nossa incompreensão.

((Caio Fernando Abreu))

Despedida...

ჱ ܓ Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces ? - me perguntarão. -
Por não Ter palavras, por não ter imagem.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras ?
Tudo.
Que desejas ?
Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação ...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão !
Estandarte triste de uma estranha guerra...
Quero solidão ჱ ܓ

Cecília Meireles

Tu és como rosto das rosas
diferente em cada pétala.
Onde estava o teu perfume?
Ninguém soube.
Teu lábio sorriu para todos os ventos
e o mundo inteiro ficou feliz.
Eu, só eu, encontrei a
gota de orvalho
que te alimentava,
como um segredo
que cai do sonho...

Cecília Meirelles

quinta-feira, 15 de outubro de 2009


A Loba

Sou doce, dengosa, polida
Fiel como um cão
Sou capaz de te dar minha vida
Mas olha, não pise na bola
Se pular a cerca eu detono, comigo não rola
Sou de me entregar de corpo e alma na paixão
Mas não tente nunca enganar meu coração
Amor pra mim, só vale assim
Sem precisar pedir perdão
Adoro sua mão atrevida
Seu toque, seu simples olhar
Já me deixa despida
Mas saiba que eu não sou boba
Debaixo da pele de gata
Eu escondo uma loba
Quando estou amando eu sou mulher de um homem só
Desço do meu salto
Faço o que te der prazer
Mas ó meu rei, a minha lei
Você tem que saber

Sou mulher de te deixar se você me trair
E arranjar um novo amor só pra me distrair
Me balança mas não me destrói
Por que chumbo trocado não dói
Eu não como na mão de quem brinca com a minha emoção
Sou mulher capaz de tudo pra te ver feliz
Mas também sou de cortar o mal pela raiz
Não divido você com ninguém
Não nasci pra viver no harém
Não me deixe saber ou será bem melhor pra você
ME ESQUECER!

Alcione

quinta-feira, 1 de outubro de 2009


Sou pessoa de dentro pra fora. Minha beleza está na minha essência e no meu caráter. Acredito em sonhos, não em utopia. Mas quando sonho, sonho alto. Estou aqui é pra viver, cair, aprender, levantar e seguir em frente.
Sou isso hoje... Amanhã, já me reinventei.
Reinvento-me sempre que a vida pede um pouco mais de mim.
Sou complexa, sou mistura, sou mulher com cara de menina... E vice-versa. Me perco, me procuro e me acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar...
Não me dôo pela metade, não sou tua meio amiga nem teu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada. Não suporto meio termos. Posso ser boba, mas não sou burra. Ingênua, mas não santa. Sou pessoa de riso fácil...e choro também.

Por ti junto aos jardins cheios de flores novas
me doem os perfumes da primavera.
Esqueci o teu rosto, não me lembro de tuas mãos,
como beijavam os teus lábios?
Por ti amo as brancas estátuas adormecidas nos parques,
as brancas estátuas que não têm voz nem olhar.
Esqueci tua voz, tua voz alegre, me esqueci dos teus olhos.
Como uma flor a seu perfume, estou atada à tua lembrança
imprecisa. Estou perto da dor como uma ferida,
se me tocas me farás um dano irremediável.
Não me lembro mais do teu amor e no entanto te adivinho
atrás de todas as janelas.
Por ti me doem os pesados perfumes do estio:
por ti volto a espreitar os signos que precipitam os desejos,
as estrelas em fuga, os objetos que caem.

Pablo Neruda

Perdido

A gente vai perdendo as coisas,
E vai achando as coisas perdidas.
Vai tolerando o intolerável
Murmúrio das frases desconexas.
Que vem do fundo das doidas avenidas.
Entre um absurdo e um canteiro.
Vai arquivando as faltas anexas;
A um sonho de vagar a esmo.
Metade mesmo de um pequeno inteiro.
E moldando a massa do corpo
Ao fumo da alma breve.
Ressuscitando sempre o mesmo morto.
Como um cumprimento mecânico
A um ser invisível entre os fogos santos.
E as auroras tristonhas e elevadas,
A um sol de outro mundo e mantos,
Tingidos de sangue...E flores pintadas
A mão ferida da promessa extinta,
Apenas pra ter onde prender o olhar.
Enquanto morriam as tardes sob o mar.
E enquanto era assim
Urgente apenas silenciar!

Claudia Morett